terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Entre Dourados e Palometas


Por Marco Leite
Conheci a pescaria cedo, por intermédio de um pescador, o Seu Clemente, que morava na General Propício quase chegando ao rio. A casa do Seu Clemente era um barraco onde ele morava com a família, e, volta e meia, a enchente do rio invadia sua casa. Seu Clemente era amigo de nossa família, especialmente de meu pai, que era companheiro de trago do Bolicho do Seu Dário, muito conhecido na ilha do Marduque.
Pois foi com o meu pai e Seu Clemente que comecei minhas aventuras nas margens do Uruguai. Por lá conheci a Ilha da Caixa D’água, a Ilha das Três Cruzes, o Paredão, o Redemoinho da ponte – que era um grande monte de cimento armado, sobras da construção da ponte -, o Cacaréu, a Ilha Argentina e o Itapitocaí.
Esses lugares mágicos fizeram parte de minha vida durante 14 anos. Muito cedo, ainda bem menino, comecei a me aventurar sozinho nas pescarias ou em companhia do meu grande amigo Balalo, aquele mesmo, que depois jogou no Internacional.
Lembro que cada lugar dava um tipo de peixe na Ilha da Caixa D’água e o paredão era local da pesca de dourado e piava, pegávamos peixes grandes no caniço, com a água pelos joelhos. Na Ilha das Três Cruzes, lugar assim denominado por causa de uma tragédia com três irmãos que morreram por lá. A água era suja e barrenta, então pegávamos muito pintado, pacú, mandinho e jundiá, todos peixes de couro. Esse lugar era muito perigoso e profundo e é onde atracavam as chatas, embarcações que carregavam a areia extraída do Uruguai.
No redemoinho íamos pescar com a Barca dos Fuzileiros Navais, que fazia a patrulha do rio Uruguai, mas nessa pescaria só podíamos ir nos finais de semana, pois era quando meu pai, seu Vilmar, fazia o plantão na patrulha. O local ficava bem no meio do rio e era o lugar onde pescávamos de linha e pegávamos os peixes bem grandes, como: surubi, dourados (gigantescos) e piavas graúdas.
Eram raros esses momentos e foi lá que vi o maior dourado de minha vida. Ele estava na chalana do Seu Clemente, era imenso, não sei precisar quantos quilos tinha, mas para ser tirado da lancha teve que ser carregado por dois.
Ao Cacaréu e à ilha Argentina ou ilha das Cobras fui muito pouco, mas fui. O Cacaréu ficava nos fundos dos Fuzileiros e eu ia passar os fins de semana, para pescar e caçar preás de funda. Por lá, os tipos de peixes eram o dourado e a piava pois era lugar de correnteza muito forte. Na ilha das Cobras o pai não nos levava muito, pois como tinham muitas cobras era perigoso.
O lugar mais mágico de todos sem dúvida nenhuma era o Itapitocaí, afluente do Uruguai cujo nome do vem do Guarani e quer dizer rio das pedras pequenas. Lembro que quando íamos para lá era uma festa familiar, a mãe e minhas irmãs preparavam lanches, água e sucos para passarmos o domingo. O Itapitocaí lembrava muito uma sanga, e com a mata muito fechada nós andávamos quilômetros para achar os melhores locais de pescaria. Por lá também pegávamos dourado e piava.
Durante muito tempo garanti o peixe da semana lá em casa, sempre que vinha do Uruguai. Lembro de passar a comprar peixe só quando vim para Canoas, pois até então o peixe consumido pela minha família era pescado por mim ou pelo meu irmão Ubirajara.
Mas nem sempre era fartura, pois tinham as palometas. Peixe muito comum nas barragens e rios da região, a palometa é uma prima da piranha. Talvez tão feroz quanto ela, esse bichinho era brabo, quando resolvia atrapalhar uma pescaria era melhor desistir pois só vinha isso no caniço. Dizem que hoje elas tomaram conta do Uruguai, pois com a quase extinção do dourado, seu maior predador, elas estão cada vez mais dominantes na região. Ouvi falar de iniciativas para conter o avanço das mesmas, mas parece que não têm surtido efeito.
Quando estive aí em Uruguaiana, semanas atrás, lembrei dessas pescarias, mas a realidade tem mostrado que já não se pesca como antes no velho Uruguai. Torço para que as autoridades consigam devolver o rio despoluído, para a população da cidade viver as mesmas alegrias que tive em minha infância.
Artigo Publicado Jornal Tribuna - Uruguaiana - RS

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Passo do Mês


Décimo Segundo Passo

“Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos procuramos transmitir essa mensagem aos dependentes que ainda sofrem, e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”.

por M. Fuelber

O enunciado do Passo começa com uma grandiosa promessa. Nos diz que, graças a estes passos, podemos andar despertos espiritualmente. Podemos entender esse despertar espiritual de várias maneiras. Na verdade, cada indivíduo terá seu próprio entendimento do que significa despertar espiritualmente. Também podemos entender que não existe um único despertar, mas vários e de diferentes intensidades.
Provavelmente constataremos que por intermédio dos Passos estamos readquirindo a capacidade de amar que havíamos perdido. Nos sentiremos mais felizes, centrados, serenos, confiantes no por vir e, enfim, mais maduros como pessoas.
Nada aconteceu por acaso. Admitimos nossa derrota e perda do domínio da vida.
Viemos a acreditar num Poder Superior a nós e decidimos entregar nossa vida e vontade a Ele.
Buscamos o autoconhecimento e admitimos a Ele, a nós mesmos e a outro ser humano nossas falhas. Prontificamo-nos a deixar Ele agir e remover essas falhas em nós.
Buscamos a humildade necessária para pedir a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições. Relacionamos todas as pessoas a quem prejudicamos em nossa vida de ativa e buscamos disposição para reparar os danos causados.
Com nossa relação pronta, procuramos reparar um a um os danos causados às outras pessoas. Através do Décimo Passo, passamos a nos inventariar constantemente com o propósito de não mais errar e continuarmos a nos conhecer melhor, e quando falhamos e percebemos que erramos de novo, nós admitimos prontamente e tomamos, com o auxilio do programa, as providencias necessárias para corrigir nosso comportamento e reparar possíveis danos causados.
Agora também temos como meta melhorar constantemente nosso contato com o Deus de nosso entendimento, para que possamos conhecer Sua vontade e obter forças para realizá-la em nossas vidas.
Tudo isso nos conduziu a uma nova maneira de viver e de nos relacionar com as pessoas e o mundo que nos cerca, e isso por si só já pode ser considerado um despertar espiritual. Nos sentiremos impelidos a levar adiante por gratidão, amor e até felicidade esta mensagem de uma vida nova.
Podemos falar as outras pessoas sobre o programa e os benefícios espirituais do mesmo. Mas perceberemos que a maneira mais eficaz de levar a mensagem de recuperação, passa por praticar os princípios de recuperação em todas as nossas atividades.

Então companheiros?
Que o Deus do entendimento de cada um possa Ter cada vez mais lugar em nossas vidas, que possamos ser agentes multiplicadores dessa mensagem e cada vez mais praticar esses príncipios em todas as nossas atividades.


PS:. M. Fuelber é um companheiro de recuperação que ministra palestras e fala sobre passos aos residentes da Fazenda Renascer. Ele foi muito importante em minha caminha, dentro e fora da Fazenda.

Obrigado Companheiro

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Entrega

A vida se renova na Renascer

por Marco Leite


Fiz parte da última reunião do Grupo Gratidão e principalmente tirei muito proveito da palestra da psicóloga Terezinha Humann. A Dona Terezinha foi uma das pessoas que me abriram os olhos para a verdadeira caminhada em busca da recuperação. Lembro de duas ocasiões: a primeira foi quando eu estava com três meses de residência e, mais fortalecido fisicamente, achava que o meu tempo de Renascer deveria terminar por ali. Havia tomado um chá que tem lá na Fazenda e só nasce dentro de comunidades terapêuticas: o chá “tô bom”. Este chá na verdade não faz bem, ele alimenta o ego e o auto-engano. Na verdade é uma erva daninha que se mistura com o inço, outro problema nas comunidades. Achando que o efeito do tal chá era bom acreditei que era chegada a hora de ir embora da Fazenda e coloquei isso na reunião da Dona Terezinha. Ela me questionou se não era a droga me chamando, e do alto do meu orgulho respondi que não.

Mas saindo da reunião me peguei a pensar e ali acordei pela primeira vez em minha caminhada, pois percebi que estava fazendo as minhas vontades novamente e que essas já não me perteciam mais pois tinham sido entregues a Deus. E, sendo elas entregues, que direito eu tinha de tomar essa decisão sozinho? E fui ficando na comunidade...Passei pelo quarto passo, pelo confronto, e pelo quinto passo - momentos muito importantes para quem faz recuperação em comunidades terapêuticas.

Finalmente, saí de visita pela primeira vez e dei de cara com o mundo novamente à minha frente - uma família remodelada e onde eu me sentia um estranho. Parecia que ali não era mais o meu lugar. Foram cinco dias de muita confusão em minha cabeça ainda doente.
Voltei para a Fazenda e fui à consulta com a Dona Terezinha. Coloquei minhas dúvidas, inseguranças e falei que me sentia um estranho na nova vida que me era proposta. Recebi um retorno que tomei como lei em minha caminhada, Dona Terezinha perguntou o quê eu tinha feito nos seis meses de minha caminhada e disse também que eu estava perdendo o meu tempo, porque eu não tinha pegado o gosto pela caminhada de recuperação.


Afirmou que sem isso era melhor eu voltar para casa e desistir.Foi nesse momento que percebi a grande diferença em querer e não querer recuperação. Ser feliz sem as drogas é a grande sacada e isso era o “pegar gosto pela recuperação”.

O grande problema que vejo nos dependentes é que eles se tornam pessoas tristes e sofrem sem a substância, e é exatamente o contrário que se deve fazer, devemos comemorar uma vida sadia e em abstinência. Claro que só podia me sentir um estranho em minha nova vida, pois não tinha nenhuma. Tinha sim uma ilusão de ter e dos prazeres imediatos. Minha vida de hoje um ano e três meses não é uma maravilha, mas é o que tenho.

Mas com certeza é bem melhor do que a que eu vivi durante meus trinta e cinco anos de adicção ativa.

Colégios de minha infância


Marco Leite

Eu iria contar sobre minhas pescarias..., mas resolvi mudar o assunto porque recebi uma foto, tirada por minha comadre, na qual eu apareço na frente do meu primeiro colégio, o Paso de Los Libres.
A escola continua a mesma, até o letreiro do nome é igual, mas a pintura está renovada. Voltei aos tempos de guri, isso há 40 anos. Lembro muito bem dessa época. Sempre estudei de manhã e o inverno era de renguear cusco, por mais que minha mãe me abrigasse, o vento minuano achava uma brecha. Lembro que vinha caminhando da General Propício até o Paso, que ficava perto da Igreja do Carmo, do Tênis Clube, da Aduana. O estabelecimento de ensino ficava bem em frente aos trilhos e à casa do falecido vereador Ênio Savedra.
A caminhada era longa e, no inverno, com a geada, minhas pisadas quebravam o capim congelado pelo frio. A ida para o colégio era dura, mas era ir ou ficar de castigo. E o castigo do pai era duro! No tempo em que estudei no Paso ainda não existia a Aduana de hoje, a antiga era na entrada da ponte mesmo. O retorno do Paso era uma aventura, conhecíamos todos os caminhos pela mata e pelas sangas da região. Hoje, isso tudo está coberto pela estrada que separa a cidade da Ilha do Marduque.
Muito tempo depois me mudei para a mesma rua do colégio Paso e, ali, criei meu mundo de piá travesso, sempre sujo com o picumã da maria fumaça que passava no fundo da minha casa. Era uma casa com um grande pátio e eu e meu irmão tínhamos um pequeno zoológico nos fundos, com galinhas, caturras, coelhos, cachorros, patos, corujas, peixes (em um pequeno lago que fizemos), e até um pequeno graxaim ou sorro, muito brabo, que tivemos que soltar pois se mataria na gaiola.
Logo depois do Paso, fui estudar no Colégio do Horto, que antes, durante muito tempo, só aceitava meninas, mas quando atingi as séries possíveis tive que mudar de escola. Daí o Horto já estava aceitando meninos também. Nunca fui muito de estudar, mas aprendia tudo na sala de aula mesmo e me saía bem nas notas. Do Horto me lembro das oficinas artesanais, gostava de trabalhos manuais. Mas como eu era muito “ativo”, as irmãs aconselharam a minhá mãe me mudar de colégio. Então, fui estudar no União, um colégio metodista. O que me lembro dessa passagem é de que esse colégio estava bem a frente do seu tempo. O União tinha todos os aparelhos para a prática de ginástica olímpica. Eram aparelhos rústicos e construídos com o material da região. Hoje vejo a importância disso, pois a grande maioria de nosso colégios deveriam incentivar a prática de todos os tipos de esporte, e não é o que acontece. Por fim completei o ginasial no Elisa Ferrari Valls, aquele que ficava ao lado da catedral, e em frente à praça. Foram ótimos momentos, o Elisa era um colégio muito conceituado e me saí bem lá.
Logo que completei o ginásio tive que vir para Canoas, pois meu pai foi transferido e minhas irmãs precisavam fazer faculdade, o que não tinha em Uruguaiana.
Ah, lembrei que fiz o jardim de infância no Domingos José de Almeida, nenhuma escolinha de hoje se compara àquele lugar mágico. Quando estive por aí, dias atrás, passei por lá, está tudo muito igual e muito bem cuidado. São tradições que me fazem lembrar a importância de se ter uma boa estrutura de ensino. Lembro que minhas irmãs saíram direto daí, fizeram o vestibular e passaram. Hoje isso não acontece com tanta facilidade, pois a educação está tão deficitária que foram criadas fábricas de cursinhos pré-vestibulares que não existiriam se a educação de hoje fosse que nem a dos meus tempos de guri em Uruguaiana.


Parabéns Uruguaiana.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Que eu não perca...

Causos de minha infância




O Sete Trouxas, Pepe Caravana,
Ivo Rodrigues e Hilda Louca

Seguindo os tempos de guri, lá palas bandas da General Propìcio, lugarejo hoje conhecido como a Ilha do Marduque, originado de uma radionovela chamada O Egípcio, não lembro bem se era da Rádio São Miguel ou da Charrua. Meu pai foi um dos fuzileiros que apelidaram assim o local, devido às várias inundações do Rio Uruguai e que acabavam ilhando a região.

Dessa época lembro de figuras, como o Sete Trouxas, um andarilho, muito conhecido em toda cidade. Minha mãe, Dona Ione, costumava me assustar sempre dizendo: “tê comporta guri! Olha que o Sete Trouxas vai te pegar!” Morria de medo e lembro de ver o Sete Trouxas várias vezes, mas não tenho certeza disso, pois podia ser fruto de minha imaginação, que me fazia enxergá-lo em qualquer cavaleiro errante que andasse pela Duque de Caxias, lá por perto da Igreja do Carmo.

Outra figura que me assustava era o Pepe Caravana, um outro andarilho folclórico de minha infância em Uruguaiana. O Pepe era chamado assim porque, segundo contavam os antigos, era um sujeito que tinha os pés virados para dentro (pepé). Desse, nós fugia-mos apavorados, pois sempre tinha alguém nos “atochando” que ele ia nos pegar.

Tinha também o Ivo Rodrigues, uma das figuras mais famosas da fronteira, proprietário do Cabaré do Ivo ou Casa Rosada. Ivo foi a primeira drag queen do Estado, fez parte do documentário da RBS TV “RS, 100 anos de História”, e foi também muito citado nas obras do escritor Tabajara Ruas. Ivo era amigo pessoal de meu pai e dos seus colegas do corpo de fuzileiros navais. Volta e meia eu ía com meu pai no Cabaré do Ivo. Sempre simpático, Ivo distribuía balas para as crianças e gentilmente costumava nos levar para passear em sua charrete ou carruagem, muito chique, e que hoje faz parte do museu de cidade.
Ivo também sabia botar respeito. Meu pai me contava várias histórias dos corretivos que ele passava nos mais abusados que queriam se aproveitar de sua opção sexual. Lembro de uma tirada do meu pai para seus colegas: “Tomem cuidado e se comportem que esse é mais homem que todos nós juntos”.
Mas o causo mais divertido de minha infância sem dúvida é o de uma vizinha de minha mãe. A Hilda Louca, como a mãe costumava chamá-la, era uma figura estranhíssima, andava sempre de preto e com um guarda chuva da mesma cor. Hilda era muito amiga de nossa família e também metia muito medo em mim e em meus irmãos, como o temor que a Turma do Chaves tem pela Bruxa do Setenta e Um.
Pois a Hilda era assim, super misteriosa. Um dia perguntei para mãe o porquê de ela estar sempre de preto. Minha mãe me disse que era luto pela morte do marido.
Numa das conversas de Hilda com minha mãe, um dia ela perguntou:
Dona Ione o que a senhora acha de eu tirar o luto?
Pois já faz dez anos que uso ele e afinal de contas o falecido não era nem meu parente.

Sem Medo de Pegar o Trem

Negão - O adicto mais velho da Fazenda Renascer

Que os sonhos sejam mais poderosos que os fatos, que a esperança sempre triunfe sobre a experiência, que a risada cure o pesar, e que o amor seja mais forte que a morte.

A liberdade é o espaço que a felicidade precisa.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Amar... é ser feliz, na felicidade do outro!


por Marco Leite

Durante meus tempos de residência na Comunidade Terapêutica Fazenda Renascer eu tive muitas temáticas: passos, princípios, relação humildade X orgulho, entre outras. Quem persevera na busca do programa e permanece na Comunidade acaba repetindo algumas temáticas, o que é bom, pois tu realmente estudas o assunto em dois períodos diferentes da recuperação, e notas nitidamente como as coisas mudam durante a estada na Fazenda e também como o período lá vivido realmente transforma as pessoas.
Uma dessas temáticas me marcou muito e acredito que também a outros residentes. Nossa psicóloga, Terezinha Humann, nos questionou durante quase dois meses sobre o que seria o verdadeiro amor. Opiniões não faltaram, cada um com o seu entendimento do que realmente era amar. Passadas muitas reuniões ninguém conseguiu dar a resposta para a psicóloga.
Terezinha então lançou a questão que o verdadeiro amor, era o de total doação para fazer a pessoa amada ser feliz. Então amar era ser feliz na felicidade do outro. Para um adicto, isso caía como uma bomba. Nós não entendíamos como era ser feliz na felicidade do outro.
E as perguntas foram muitas: e se a mulher amada me trair? Como posso ser infeliz se o outro estiver feliz e ainda assim o amar? Para uma mãe e um pai até pode dar certo, mas e comigo? Foram várias perguntas, esses são apenas alguns exemplos.
O debate era ótimo sobre como um adicto ia se despojar do seu EGOísmo? E simplesmente aceitar a felicidade do outro em prol da sua. Até hoje me pergunto como realmente é difícil essa “entrega” ao amor. Mas hoje procuro entender que, como o amor é dividido, a felicidade é para ambos os lados. De nada adianta amar e ser infeliz. Então é melhor deixar o outro ser feliz e partir para outra, entendendo que sem a recíproca não há o verdadeiro amor. Verdadeiro amor é valorizar-se, para o outro perceber que você o valoriza.
É simples, mas não é fácil. O ser humano é egoísta por si só, por muitas vezes só vê a felicidade em si e não olha o quanto está prejudicando os outros com essa atitude. Quase não temos mais tempo de pensar no nosso próximo, perdemos a inocência e nos tornamos secos. Lembro de minha infância, de como me preocupava com os outros, sem me cobrar se isso era certo ou não. Agora me preocupo com coisas banais cada vez que tenho que auxiliar alguém e arranjo desculpas para não fazê-lo.
O que Dona Terezinha sempre quis nos alertar é que amor é entrega, doar-se sem querer receber nada em troca, se não, não é amor! Eu confesso que tenho dificuldades com isso, ainda sou muito egoísta e fico cego algumas vezes. Mas uma coisa é certa, aprendi muito bem na Fazenda, e isso eu pratico ferrenhamente: tenho um verdadeiro amor à vida sem as drogas e me entrego totalmente a isso. O resto eu sigo aprendendo e talvez um dia eu chegue lá.

Amarás o Senhor teu Deus de todo o Coração,
com toda a alma, com toda a mente
Porém:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Mateus, 22 - 37,39

Filme de Jesus Cristo

Maravilhosa mensagem

Fechando um ciclo e derrotando a discriminação


por Marco Leite


Pois Barack Obama ganhou a eleição nos Estados Unidos.

Ele, um mulato filho de um negro com uma branca, teria tudo, mas tudo mesmo, para se tornar um excluído social. A baixa aceitação da sociedade americana foi vencida pela tenacidade de Obama em tornar o mundo melhor, falei o mundo sim, pois Barack já era um cidadão do mundo antes de ser o candidato à presidência da maior potência do planeta.Pois Barack chegou e venceu!!!

Ele quebrou todas as rejeições e mostrou capacidade de superação inigualável. Começou com o trabalho comunitário e chegou a senador e, hoje, a presidente. Essa é uma vitória que para mim vem mostrar que vencer dificuldades está na capacidade de cada um que deseja uma vida melhor para si e para os outros. Tenho visto em minha caminhada de recuperação muitos ‘Obamas’ - pessoas discriminadas como marginais porque um dia usaram drogas e álcool -, e que vencem e voltam ao convívio de uma sociedade hipócrita que os “aceita”, mas não acredita que seja possível uma transformação pessoal.Para Obama chegar ao poder nos EUA, ele derrubou mitos como Hilary Clinton e o republicano John McCain, que insistiam em dizer que um negro não teria condições da chegar à Casa Branca. Não foi assim que o povo americano entendeu. Se vai dar certo ou não, não posso prever, mas torço para que sim.
Obama é o maior exemplo do que se diz nas comunidades terapêuticas, “tenho que matar um leão a cada dia”. Confesso que para mim não tem sido difícil viver em recuperação, pois não cheguei a causar estragos que fizessem que a sociedade me discriminasse. Mas vejo muitos companheiros saírem e não suportarem a rejeição social e voltarem ao uso. Realmente não é legal a pessoa ser vista com um marginal, por esse tipo de erro cometido no passado. Todos que completam o programa dos Doze Passos saem de uma comunidade diferentes e com outro entendimento da vida, mas a sociedade não sabe e não quer entender isso. O defeito de caráter está em todos, quer tenham usado droga ou não. E a sociedade é cheia de ‘juízes’ que se sentem no direito de julgar e condenar o dependente, sem se importar em saber o que foi que o levou ao uso abusivo da substância. Mas, Obama nos mostra que um ciclo está se fechando e que realmente um mundo melhor pode vir e servir para todos.A garra de Obama é igual a de muito guerreiros que passaram dez meses em uma comunidade. Ele venceu e mostra para todos nós que é possível vencer a discriminação social e lutar contra a hipocrisia.Só por hoje, um negro me mostra que não posso frequejar em minha recuperação, pois o país mais racista do mundo se dobrou a um lutador e vem me dizer que posso realmente viver em liberdade sem me entregar nas derrotas que a vida ou a sociedade podem me apresentar. Assim como Obama, eu e meus companheiros somos vencedores, pois tivemos a coragem de nos enfrentar e realmente lutar para nos tornarmos pessoas melhores.
Eu só tenho que ficar admirado com esse acontecimento americano e a possibilidade de início do término de um ciclo discriminatório.Obama é o sopro da esperança, na qual se pode viver feliz e sem preconceitos.Viva a liberdade (o sonho americano) e a dádiva de Deus! Que façamos escolhas corretas, como fez o primeiro presidente afrodescendente ao acreditar que é possível.Obrigado, a meus familiares e amigos, que me ensinam todos os dias que a vida é feita de possibilidades e que a felicidade depende de minha luta e de escolhas certas ou erradas.

Fazenda Renascer

Lugar encantado!!!
Onde passei 9 meses e 27 dias, durante o período de residência na comunidade.
Conheçam um pouco desse lugar que
SALVA VIDAS!!!!!


2º Encontro de Ex-residentes

Vale da Renascer
1 º Encontro de Ex-residentes

Entrada da Fazenda Renascer

3º Encontro de Ex-residentes

Vista da Renascer em Lomba Grande - RS

Canção que todos deveriam ouvir

Melhores Vídeos

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Felizes Recaídos...

Marco Leite

... que retornam para a Renascer, neste depoimento muito parecido com A Volta do Filho Pródigo, mas nesse caso a figura central é a mãe e não pai.O filho (recaído) é o residente que retorna após uma caminhada de 10 meses e que tropeçou em decorrência de alguma coisa. E a mãe é a Renascer que aceita o filho de volta com amor para juntos procurarem encontrar em que ponto ocorreu a falha (se é que houve) que gerou esse tropeço. Tenho visto muitos companheiros retornarem para a Renascer...... e por quê retornam? Poderiam procurar outra comunidade ou clínica, mas não, volta e meia lá está um companheiro de volta, subindo a lomba, para novamente desfrutar daquele lugar encantado onde um adicto ajuda o outro a encontrar o caminho do autoconhecimento e, com isso, alcançar a melhora do SER.A malfadada recaída faz parte de nossa doença e não se configura em uma falha no tratamento. Quando isso ocorre com um filho da família Renascer, lá está a mãe amorosa, porém consciente de que às vezes vai precisar ser dura para mostrar a esse filho que é no tripé: Espiritualidade, Trabalho e Disciplina que ele vai novamente reencontrar o caminho abençoado dos Doze Passos.Vejo familiares preocupados com os recaídos que retornam para a mãe Renascer. Não deveriam, pois ele está em boas mãos e em companhia de seus irmãos, novamente. Pior seria se não se dessem conta de que precisavam novamente de ajuda e prosseguissem o processo de destruição nas drogas. Não vejo porque se preocuparem, pois ele está voltando para quem o entende e pode lhe mostrar que essa nova experiência vai ensiná-lo como acertar o caminho novamente.Sejam bem-vindos o Felizes Recaídos...


e fiquem sabendo que depois de Deus, o amor da mãe é maior força conhecida na vida.

Leitura no ônibus...

Marco Leite

Ontem tive que embarcar em um ônibus, aliás, dois. E durante a minha viagem li o livro Universo Adicto, de Marília Teixeira Martins, psicóloga de Belo Horizonte-MG. Converso com Maríla todos os dias pelo Orkut e correio eletrônico e, no pouco tempo que isso ocorre, já havia percebido que estava me comunicando com alguém que está por dentro da recuperação da dependência química e outras drogas.Devorei o livro em uma hora e meia, revivendo a minha caminhada de recuperação. Primeiro o livro mostrou o caso do Leonardo e como o alcoolismo se instala sem que a gente perceba. Passou pela negação de quem não quer enxergar seu problema de dependência e as dificuldades para reconhecer os vários aspectos que levam a pessoa à queda total, tanto moral, espiritual e social. O alerta para a recaída foi um aviso, principalmente para mim, que me sinto às vezes confiante demais na minha recuperação o que pode representar um perigo.O HALT, esse acróstico ainda sem tradução para o português, nos fala das compulsões, dos sentimentos como ira e solidão (coisas tão comuns na adicção ativa), e principalmente da acomodação ou preguiça, bem como de se achar bem e relaxar na caminhada de recuperação. Este último tópico é o mais perigoso de todos, pelo menos para mim. O achar que posso lembrar dos “velhos tempos” degustando uma cervejinha sem álcool (100% sem é uma inverdade), mostra claramente hábitos (reservas) de ativa.
O livro de Marília traz também um belo texto sobre a assertividade, ou certeza. Ele nos alerta sobre como agir em certos momentos que a recuperação nos apresenta; como lidar com problemas sendo firmes, sem perder a serenidade, sem ser agressivo para dizer um NÃO quando se faz necessário. Quando aborda os papéis da família na situação da dependência, Marília é genial - esse é o assunto que mais me fascina em recuperação. A questão do desligamento emocional é fantástica, na qual o familiar aprende como agir, praticando o verdadeiro amor, tomando decisões que não agradam e fazendo o que é preciso e mostrando com ações como é realmente amar e ao mesmo tempo não compactuar com situações que venham atrapalhar o tratamento da “família adoentada”. O texto é, também, um belo toque sobre a depressão e a dupla personalidade humana, muito aflorada no adicto, e fala das emoções que nós escondemos e não deixamos virem à tona causando-nos um grande mal, que é continuarmos presos a um círculo de medo, mentira, dor e outras coisas.Falando de tudo isso queria mesmo era agradecer a Marília pelo belo momento de recuperação que me proporcionou, e que me passa nos e-mails diários do Grupo Gratidão com suas opiniões que, para mim, são presenças constantes.


Valeu Marília,Um abraço do teu fã gaúcho

Dia 13 de Maio, a libertação do adicto

Obrigado Pai!!!!!

Marco leite


Hoje faz exatamente um ano que sai da Fazenda Renascer. Lembro muito claramente de meu depoimento, dado naquele domingo de maio, que por coincidência era Dia das Mães e Dia da Abolição dos Escravos no Brasil.Até hoje me vem na memória aquele momento em que olhei para os familiares a minha frente e enxerguei a minha família: minha mãe Dona Ione, minhas irmãs Marione, Viviane, Rosane e Eliane, minha esposa Rosa, minha filha Maria Clara e finalmente olhei para o meu pai, seu Vilmar, já em um estágio avançado de demência alcoólica.Dei meu depoimento de despedida aos meus companheiros e à casa que me acolheu usando a palavra adicto (ou escravo) como tema central de meu relato. Após pedi perdão para minha esposa e principalmente para minha filha pelo mal causado a elas pelos meus 30 anos de alcoolismo cruzado e também para minhas irmãs.A partir deste momento parecia que não existia mais ninguém no salão, só eu e o meu pai. Comecei então a falar para ele, mesmo sabendo que ele já não entendia mais nada devido ao estado avançado da sua doença. Mas, mesmo assim, falei que naquele Dia das Mães a pessoa mais importante que estava ali naquele momento era ele, pois meu pai apesar de ter criado muito bem seus filhos e de ter sido um bom marido, não teve a oportunidade de conhecer o caminho da libertação do álcool. Olhava para o meu pai e via o meu futuro se não tivesse conhecido a Fazenda Renascer e o caminho dos Doze Passos de reeducação comportamental. Naquele dia 13 de maio eu, o escravo, (adicto) só queria o abraço de alforria de meu pai e isso eu não poderia ganhar pois ele não teve tempo para procurar o caminho da libertação. Mas bem no fundo de minha alma eu sei que Deus fez com que meu pai entendesse o que eu queria dizer naquele dia, e ele estava orgulhoso por ver que pela primeira vez em sua vida o filho fez alguma coisa de certo.Sei que aquele momento e a entrega do Diploma de Bêbado Arrependido (brincadeira), que é um documento para quem completa 10 meses de casa, não garante coisa nenhuma. A maior luta é quando tu sais da Fazenda e vê que o mundo real continua aqui fora. Que problemas existem, que as drogas estão cada vez mais populares, a violência, enfim, os problemas vão se apresentando. Mas, hoje eu não tenho mais medo de problemas e os enfrento em abstinência, procurando a tão sonhada sobriedade. Tem várias coisas que me dão muita força para continuar, minha esposa, minha filha, minha família, os grupos de apoio, a Renascer, o Ivander, a Isolde, o Gerardus, o Márcio, o João da Notinha, o Gilmar, a Rosana e vários companheiros de caminhada que conheci na Fazenda e que continuam na batalha aqui na rua comigo.Mas a principal coisa que me mantém em pé é o sorriso agradecido e sem dentes que meu pai me dá quando me vê e eu grito


"Como é que vai o meu ALMIRANTE!!!!!".

Sucuri cachaceira

por Marco Leite

Estive em Uruguaiana, minha cidade Natal, para o cinqüentenário da minha comadre, cujo nome manterei no anonimato devido a sua jovialidade e para não destruir os sonhos de seus admiradores, que acham que a prenda tem 25 anos.
Chegando na cidade fui muito bem recebido pela família da comadre. Sentamos para um bom chimarrão e começaram as histórias... Assunto era o que não faltava: políticos pitorescos, colégios da infância, blocos carnavalescos, parentes, amigos, a enchente do rio Uruguai, entre tantos outros temas.

Pois foi justamente na parte da enchente do rio Uruguai que surgiu a história de duas sucuris que assombram Uruguaiana. A primeira teria sido abandonada na localidade do Imbaá por um circo, ao qual simpaticamente minha comadre deu o nome de ‘Boloteria’. Diz o irmão da comadre, o Olavo, um ótimo contador de histórias, que a dita cobra deve ter uns 30 metros e que havia devorado leões que, como ela, também teriam sido abandonados pelo circo. A prova de que ela existe são as jaulas que permanecem no Imbaá e os rastros deixados nas plantações de arroz.

Mas, o melhor “causo” foi o da segunda cobra, que veio com a enchente e se encontra lá pelos lados do ‘Faviero’. Nem sei onde isto fica, pois fiquei apavorado e não tive coragem nem de perguntar a sua direção. Pois Olavo garante que a cobra existe e é falada no noticioso da TV Uruguaiana, que alerta sobre o perigo da mesma.

Olavo, empolgado, comentou que certo dia estava pescando à beira do Uruguai, quando começou atrás dele um verdadeiro tropel, o que espantara os peixes. Muito bravo, foi ver do que se tratava. Encontrou uma sucuri brigando com um sapo. Após tentar separar os dois sem êxito encheu a boca da cobra de cachaça, deixando-a no chão, e voltou a pescar. Dali um pouco, sentiu algo batendo às costas. Virou-se e deu de cara com a cobra cutucando-lhe com a ponta do rabo, trazendo um sapo ‘em cada mão’, para trocar por duas garrafas de pinga.

Apavorado, Olavo teria corrido para casa e começara a alertar a população do perigo da cobra cachaceira. O caso foi parar na emissora de TV local e, logo logo, vai estar no noticiário nacional.

Continuaremos... e um
Sorriso "de toda boca" para todos !

O Causo: Mário Pinto e o Roubo ao Empório

Bom, no primeiro artigo, empolgado com o retorno à minha cidade, acabei esquecendo de me apresentar. Meu nome é Marco Antônio Machado Leite, tenho 46 anos, e sou cria da Barra do Quarai, mas de lá só lembro de poucas coisas. Sei que nasci de parteira, mas saí muito criança para Uruguaiana. Minha mãe é cria da terra e meu pai, cearense, um militar da Marinha, cedido pela Capitania dos Portos ao Corpo de Fuzileiros Navais. A primeira moradia que realmente lembro ficava na rua General Propício, uma casa que depois de nossa passagem virou um cabaré chamado Bataclã, rua, também, do Três Coqueiros (famosa casa noturna e que funciona até hoje). Sou o quarto de seis irmãos. Cresci como qualquer criança ribeirinha, nadando, pescando e fazendo pequenas travessuras com os trens de linha.
Tínhamos uma turma da pesada, descarrilávamos trens para roubar batatas, cebolas, bananas e principalmente azeitonas, quando dávamos sorte vinham aquelas graúdas e carnudas e nós nos fartávamos. Causávamos prejuízo muito grande à viação ferroviária pois, às vezes, os trens ficavam horas e até dias parados por causa de nossa falcatrua. Mas para nós, crianças, isso não era preocupação, o que importava mesmo era a aventura. Mas como uma aventura só não satisfazia, começamos a nos a riscar mais para o centro da cidade, e é aí que entra o nosso causo de hoje.

Mário Pinto e roubo do Empório

Lembro-me, como se fosse hoje, lá por 1970, entrei no antigo Empório Rio Branco, na Rua Duque de Caxias, em frente à praça central. Roubei a maior barra de chocolate que já vi em minha vida, ela mal cabia debaixo da minha camisa. Saí do Empório e passei a ser perseguido pelos donos do comércio. Essa perseguição durou horas, mas horas mesmo, e passou a ser acompanhada pelo noticioso, ao vivo, da Rádio Charrua, e tendo como locutor Mário Pinto (cronista), radialistas da terra e muito a frente de seu tempo.

O Mário fazia um jornalismo denúncia e bem parecido com o Alerta Geral apresentado na TV pelo jornalista Datena, nos dias de hoje. O radialista, que era um show e muito ouvido por toda a população, passou a relatar o causo. Eu, é claro, apavorado, só fiquei sabendo das coisas depois. Minha preocupação era correr e poder me livrar da proprietária do mercado, que foi chamada de xerifona pelo radialista. Andei por vários lugares, passei pelo bueiro que passa por baixo da aduana, fui até o rio, voltei para o centro, e nada da xerifona desistir. Tudo isso muito bem narrado pelo Mário.

Sei dizer que adormeci atrás de um portão e acordei à noite. Saí de meu esconderijo e, para minha surpresa, a Xerifona, ainda à espreita, me capturou. Fui parar na delegacia da cidade e a Rádio Charrua estava lá. Eu muito envergonhado, esperava a chegada de meu pai. Quando chegou, meu pai pouco falou, queria logo resolver o assunto e sair de lá. A notícia percorreu a cidade e também serviu como lição, pois o castigo de meu pai foi duro e aprendi a nunca mais botar a mão no que não é meu.