Bom, no primeiro artigo, empolgado com o retorno à minha cidade, acabei esquecendo de me apresentar. Meu nome é Marco Antônio Machado Leite, tenho 46 anos, e sou cria da Barra do Quarai, mas de lá só lembro de poucas coisas. Sei que nasci de parteira, mas saí muito criança para Uruguaiana. Minha mãe é cria da terra e meu pai, cearense, um militar da Marinha, cedido pela Capitania dos Portos ao Corpo de Fuzileiros Navais. A primeira moradia que realmente lembro ficava na rua General Propício, uma casa que depois de nossa passagem virou um cabaré chamado Bataclã, rua, também, do Três Coqueiros (famosa casa noturna e que funciona até hoje). Sou o quarto de seis irmãos. Cresci como qualquer criança ribeirinha, nadando, pescando e fazendo pequenas travessuras com os trens de linha.
Tínhamos uma turma da pesada, descarrilávamos trens para roubar batatas, cebolas, bananas e principalmente azeitonas, quando dávamos sorte vinham aquelas graúdas e carnudas e nós nos fartávamos. Causávamos prejuízo muito grande à viação ferroviária pois, às vezes, os trens ficavam horas e até dias parados por causa de nossa falcatrua. Mas para nós, crianças, isso não era preocupação, o que importava mesmo era a aventura. Mas como uma aventura só não satisfazia, começamos a nos a riscar mais para o centro da cidade, e é aí que entra o nosso causo de hoje.
Mário Pinto e roubo do Empório
Lembro-me, como se fosse hoje, lá por 1970, entrei no antigo Empório Rio Branco, na Rua Duque de Caxias, em frente à praça central. Roubei a maior barra de chocolate que já vi em minha vida, ela mal cabia debaixo da minha camisa. Saí do Empório e passei a ser perseguido pelos donos do comércio. Essa perseguição durou horas, mas horas mesmo, e passou a ser acompanhada pelo noticioso, ao vivo, da Rádio Charrua, e tendo como locutor Mário Pinto (cronista), radialistas da terra e muito a frente de seu tempo.
O Mário fazia um jornalismo denúncia e bem parecido com o Alerta Geral apresentado na TV pelo jornalista Datena, nos dias de hoje. O radialista, que era um show e muito ouvido por toda a população, passou a relatar o causo. Eu, é claro, apavorado, só fiquei sabendo das coisas depois. Minha preocupação era correr e poder me livrar da proprietária do mercado, que foi chamada de xerifona pelo radialista. Andei por vários lugares, passei pelo bueiro que passa por baixo da aduana, fui até o rio, voltei para o centro, e nada da xerifona desistir. Tudo isso muito bem narrado pelo Mário.
Sei dizer que adormeci atrás de um portão e acordei à noite. Saí de meu esconderijo e, para minha surpresa, a Xerifona, ainda à espreita, me capturou. Fui parar na delegacia da cidade e a Rádio Charrua estava lá. Eu muito envergonhado, esperava a chegada de meu pai. Quando chegou, meu pai pouco falou, queria logo resolver o assunto e sair de lá. A notícia percorreu a cidade e também serviu como lição, pois o castigo de meu pai foi duro e aprendi a nunca mais botar a mão no que não é meu.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
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