terça-feira, 25 de novembro de 2008

Dia 13 de Maio, a libertação do adicto

Obrigado Pai!!!!!

Marco leite


Hoje faz exatamente um ano que sai da Fazenda Renascer. Lembro muito claramente de meu depoimento, dado naquele domingo de maio, que por coincidência era Dia das Mães e Dia da Abolição dos Escravos no Brasil.Até hoje me vem na memória aquele momento em que olhei para os familiares a minha frente e enxerguei a minha família: minha mãe Dona Ione, minhas irmãs Marione, Viviane, Rosane e Eliane, minha esposa Rosa, minha filha Maria Clara e finalmente olhei para o meu pai, seu Vilmar, já em um estágio avançado de demência alcoólica.Dei meu depoimento de despedida aos meus companheiros e à casa que me acolheu usando a palavra adicto (ou escravo) como tema central de meu relato. Após pedi perdão para minha esposa e principalmente para minha filha pelo mal causado a elas pelos meus 30 anos de alcoolismo cruzado e também para minhas irmãs.A partir deste momento parecia que não existia mais ninguém no salão, só eu e o meu pai. Comecei então a falar para ele, mesmo sabendo que ele já não entendia mais nada devido ao estado avançado da sua doença. Mas, mesmo assim, falei que naquele Dia das Mães a pessoa mais importante que estava ali naquele momento era ele, pois meu pai apesar de ter criado muito bem seus filhos e de ter sido um bom marido, não teve a oportunidade de conhecer o caminho da libertação do álcool. Olhava para o meu pai e via o meu futuro se não tivesse conhecido a Fazenda Renascer e o caminho dos Doze Passos de reeducação comportamental. Naquele dia 13 de maio eu, o escravo, (adicto) só queria o abraço de alforria de meu pai e isso eu não poderia ganhar pois ele não teve tempo para procurar o caminho da libertação. Mas bem no fundo de minha alma eu sei que Deus fez com que meu pai entendesse o que eu queria dizer naquele dia, e ele estava orgulhoso por ver que pela primeira vez em sua vida o filho fez alguma coisa de certo.Sei que aquele momento e a entrega do Diploma de Bêbado Arrependido (brincadeira), que é um documento para quem completa 10 meses de casa, não garante coisa nenhuma. A maior luta é quando tu sais da Fazenda e vê que o mundo real continua aqui fora. Que problemas existem, que as drogas estão cada vez mais populares, a violência, enfim, os problemas vão se apresentando. Mas, hoje eu não tenho mais medo de problemas e os enfrento em abstinência, procurando a tão sonhada sobriedade. Tem várias coisas que me dão muita força para continuar, minha esposa, minha filha, minha família, os grupos de apoio, a Renascer, o Ivander, a Isolde, o Gerardus, o Márcio, o João da Notinha, o Gilmar, a Rosana e vários companheiros de caminhada que conheci na Fazenda e que continuam na batalha aqui na rua comigo.Mas a principal coisa que me mantém em pé é o sorriso agradecido e sem dentes que meu pai me dá quando me vê e eu grito


"Como é que vai o meu ALMIRANTE!!!!!".

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