terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Entrega

A vida se renova na Renascer

por Marco Leite


Fiz parte da última reunião do Grupo Gratidão e principalmente tirei muito proveito da palestra da psicóloga Terezinha Humann. A Dona Terezinha foi uma das pessoas que me abriram os olhos para a verdadeira caminhada em busca da recuperação. Lembro de duas ocasiões: a primeira foi quando eu estava com três meses de residência e, mais fortalecido fisicamente, achava que o meu tempo de Renascer deveria terminar por ali. Havia tomado um chá que tem lá na Fazenda e só nasce dentro de comunidades terapêuticas: o chá “tô bom”. Este chá na verdade não faz bem, ele alimenta o ego e o auto-engano. Na verdade é uma erva daninha que se mistura com o inço, outro problema nas comunidades. Achando que o efeito do tal chá era bom acreditei que era chegada a hora de ir embora da Fazenda e coloquei isso na reunião da Dona Terezinha. Ela me questionou se não era a droga me chamando, e do alto do meu orgulho respondi que não.

Mas saindo da reunião me peguei a pensar e ali acordei pela primeira vez em minha caminhada, pois percebi que estava fazendo as minhas vontades novamente e que essas já não me perteciam mais pois tinham sido entregues a Deus. E, sendo elas entregues, que direito eu tinha de tomar essa decisão sozinho? E fui ficando na comunidade...Passei pelo quarto passo, pelo confronto, e pelo quinto passo - momentos muito importantes para quem faz recuperação em comunidades terapêuticas.

Finalmente, saí de visita pela primeira vez e dei de cara com o mundo novamente à minha frente - uma família remodelada e onde eu me sentia um estranho. Parecia que ali não era mais o meu lugar. Foram cinco dias de muita confusão em minha cabeça ainda doente.
Voltei para a Fazenda e fui à consulta com a Dona Terezinha. Coloquei minhas dúvidas, inseguranças e falei que me sentia um estranho na nova vida que me era proposta. Recebi um retorno que tomei como lei em minha caminhada, Dona Terezinha perguntou o quê eu tinha feito nos seis meses de minha caminhada e disse também que eu estava perdendo o meu tempo, porque eu não tinha pegado o gosto pela caminhada de recuperação.


Afirmou que sem isso era melhor eu voltar para casa e desistir.Foi nesse momento que percebi a grande diferença em querer e não querer recuperação. Ser feliz sem as drogas é a grande sacada e isso era o “pegar gosto pela recuperação”.

O grande problema que vejo nos dependentes é que eles se tornam pessoas tristes e sofrem sem a substância, e é exatamente o contrário que se deve fazer, devemos comemorar uma vida sadia e em abstinência. Claro que só podia me sentir um estranho em minha nova vida, pois não tinha nenhuma. Tinha sim uma ilusão de ter e dos prazeres imediatos. Minha vida de hoje um ano e três meses não é uma maravilha, mas é o que tenho.

Mas com certeza é bem melhor do que a que eu vivi durante meus trinta e cinco anos de adicção ativa.

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