quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Amar... é ser feliz, na felicidade do outro!


por Marco Leite

Durante meus tempos de residência na Comunidade Terapêutica Fazenda Renascer eu tive muitas temáticas: passos, princípios, relação humildade X orgulho, entre outras. Quem persevera na busca do programa e permanece na Comunidade acaba repetindo algumas temáticas, o que é bom, pois tu realmente estudas o assunto em dois períodos diferentes da recuperação, e notas nitidamente como as coisas mudam durante a estada na Fazenda e também como o período lá vivido realmente transforma as pessoas.
Uma dessas temáticas me marcou muito e acredito que também a outros residentes. Nossa psicóloga, Terezinha Humann, nos questionou durante quase dois meses sobre o que seria o verdadeiro amor. Opiniões não faltaram, cada um com o seu entendimento do que realmente era amar. Passadas muitas reuniões ninguém conseguiu dar a resposta para a psicóloga.
Terezinha então lançou a questão que o verdadeiro amor, era o de total doação para fazer a pessoa amada ser feliz. Então amar era ser feliz na felicidade do outro. Para um adicto, isso caía como uma bomba. Nós não entendíamos como era ser feliz na felicidade do outro.
E as perguntas foram muitas: e se a mulher amada me trair? Como posso ser infeliz se o outro estiver feliz e ainda assim o amar? Para uma mãe e um pai até pode dar certo, mas e comigo? Foram várias perguntas, esses são apenas alguns exemplos.
O debate era ótimo sobre como um adicto ia se despojar do seu EGOísmo? E simplesmente aceitar a felicidade do outro em prol da sua. Até hoje me pergunto como realmente é difícil essa “entrega” ao amor. Mas hoje procuro entender que, como o amor é dividido, a felicidade é para ambos os lados. De nada adianta amar e ser infeliz. Então é melhor deixar o outro ser feliz e partir para outra, entendendo que sem a recíproca não há o verdadeiro amor. Verdadeiro amor é valorizar-se, para o outro perceber que você o valoriza.
É simples, mas não é fácil. O ser humano é egoísta por si só, por muitas vezes só vê a felicidade em si e não olha o quanto está prejudicando os outros com essa atitude. Quase não temos mais tempo de pensar no nosso próximo, perdemos a inocência e nos tornamos secos. Lembro de minha infância, de como me preocupava com os outros, sem me cobrar se isso era certo ou não. Agora me preocupo com coisas banais cada vez que tenho que auxiliar alguém e arranjo desculpas para não fazê-lo.
O que Dona Terezinha sempre quis nos alertar é que amor é entrega, doar-se sem querer receber nada em troca, se não, não é amor! Eu confesso que tenho dificuldades com isso, ainda sou muito egoísta e fico cego algumas vezes. Mas uma coisa é certa, aprendi muito bem na Fazenda, e isso eu pratico ferrenhamente: tenho um verdadeiro amor à vida sem as drogas e me entrego totalmente a isso. O resto eu sigo aprendendo e talvez um dia eu chegue lá.

Amarás o Senhor teu Deus de todo o Coração,
com toda a alma, com toda a mente
Porém:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Mateus, 22 - 37,39

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