sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

IMPOTÊNCIAS


Fernando – Osório - RS

Na minha concepção, os Passos não são estáticos, e sim dinâmicos. Minha compreensão sobre eles evolui e se modifica juntamente com minha própria recuperação. E o Primeiro Passo se enquadra nesse contexto, na minha opinião, o único fator imutável neste passo é a "...impotência ao álcool e a outras drogas".


No início da minha recuperação, no Primeiro Passo, eu entendia que eu era apenas impotente ao uso de substâncias que alterassem meu humor. Num segundo momento percebi que minhas impotências iam além disso... eu era impotente não só ao uso de drogas, mas também a sua simples proximidade, impotente ao manuseio de dinheiro, a festas noturnas, a emoções e sentimentos como autopiedade, euforia, stress, irritação. Com o lento e gradual amadurecimento da minha vida em abstinência, algumas dessas impotências perderam força em sua influência sobre minhas atitudes. Outras se afirmaram como reais "áreas de risco", me mostrando que mesmo com o passar do tempo ainda têm um grande poder de persuasão sobre meu comportamento em relação ao uso de drogas. Por isso destaco a importância de um verdadeiro e sincero autoconhecimento para a busca de um sólido caminho rumo à sobriedade.


O manuseio de dinheiro nos meus primeiros tempos abstêmio era um verdadeiro "calcanhar de Aquiles" para mim. Ao ver as notas de dinheiro, minha mente as convertia automaticamente na quantia de droga equivalente. Sendo assim, eu evitava ao máximo o contato com cifras mais razoáveis, pois sentia claramente que seria “perigoso.com”. Com o passar do tempo, surgiram situações imprevistas em que tive que enfrentar essa impotência e notei que sua força sobre mim já não era a mesma. Hoje, lido com o dinheiro com mais naturalidade, embora procure me proteger sempre que possível. Agora vejo que essa era uma impotência mais ligada à época em que a "ferida estava mais aberta" e que apenas coloquei-a no plano dos "evites". Porém essa situação pode se alterar novamente, dependendo do meu comprometimento com minha recuperação. Já as situações emocionais, como stress, autopiedade, irritação, citadas anteriormente, realmente continuam se apresentando como verdadeiras impotências que significam risco para uma possível recaída... Não me "dou ao luxo" de permitir que esses sentimentos se desenvolvam dentro de mim, pois vejo que são "campo minado", e me esforço pra detectá-los o mais precocemente possível e amenizá-los com a ajuda de companheiros, partilhas, grupos etc...


Dei esses dois simples exemplos para mostrar como é "VIVO" o processo de recuperação e, por isso, é tão fascinante... Para finalizar, gostaria de salientar que, na minha opinião, devemos estar sempre alertas, e principalmente, nos primeiros tempos de abstinência devemos nos proteger ao máximo em todas as direções, e cuidar para não cairmos na tentação de compararmos nossa recuperação com a de outros para justificar nossas atitudes, como por exemplo: "...fulano de tal vive em baladas e continua firme em abstinência, então eu também posso". Entendo como perigoso esse tipo de pensamento. Vejo que tenho que, primeiramente, desenvolver um autoconhecimento sincero para observar bem quais minhas verdadeiras e atuais áreas propensas ao risco de recaída. E isso só o tempo e a evolução nesse processo pode nos proporcionar. Um abraço e muitas 24 horas a todos.

Vejam o vídeo do Padre Haroldo na Fazenda Renascer

Nenhum comentário: