terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Castelo nas nuvens

Padre Haroldo na Renascer

Marco Leite

Interessante o processo que um dependente de álcool e drogas passa. São diversas etapas e eu, não ao contrário dos outros, também passo. Durante minha vida de falsos prazeres fui construindo meu castelo no ar e sem qualquer alicerce. Na primeira etapa de minha recuperação tive que aprender a dinâmica da engenharia das edificações para colocar um alicerce forte nesse castelo. Foi uma etapa dolorosa, pois eu insistia na velha ilusão que o castelo nunca iria desmoronar, e ele acabou ruindo. Reconstituir o que sobrou e colocar nisso um alicerce é muito mais difícil do que simplesmente construir e, para mim, um dependente, muito mais ainda, pois a droga deixa o cara preguiçoso e sem vontade de lutar, afinal a “fuga” é muito mais fácil. Fiz esse comentário acima pois tive uma semana difícil onde não consegui viver o só por hoje, pensei em resolver as coisas futuras e fui contagiado por uma ansiedade que não havia vivenciado desde que comecei a minha recuperação. Me senti impotente a lutar contra isso, fiquei louco, mas tive sempre a certeza de que, qualquer que fosse a situação, não poderia fazer uso de substâncias que alterassem o meu comportamento (inclusive remédios). Tinha certeza de que naquele dia 13 de maio de 2007 quando completei meu programa na Renascer, não era mais um escravo (adicto). Tenho uma doença, mas controlo com as ferramentas que me foram dadas pelos doze passos de AA. Usei todas essas ferramentas na semana que passou..., pois em minha cabeça doente comecei a criar problemas e situações do nada, não entendi o que era. Mas sabia que de forma alguma podia me deixar dominar por esse momento. Fui aos grupos e botei para fora, falei com minha filha que não estava bem e pedi que sempre que eu saísse ela fosse junto. Foi a primeira vez que senti realmente que algo de errado estava acontecendo. Não sei dizer o que é, mas com certeza não era uma coisa boa e lutei contra isso. Lutei mesmo!!! E estou melhorando de novo, reagindo, botei novamente a obra do alicerce de meu castelo em primeiro lugar, já que não construí este castelo em uma rocha sólida tenho que estar sempre “em obra” para mantê-lo em pé. Estive conversando com os diretores da comunidade onde passei e é exatamente isso que eles me alertaram: os problemas, as dúvidas, a ansiedade e a impaciência sempre vão existir... Eu é que tenho que estar sempre vigilante para identificar e lutar contra isso, sempre contando com a ajuda de Deus, afinal Ele é o Grande Edificador. Sou uma pessoa privilegiada, pois tive a oportunidade que muitos não quiseram ou não tiveram tempo de ter, que é a de viver feliz com o simples fato de estar respirando nesse instante. Pois, como diz o Padre Haroldo, devemos viver a vida só por esse segundo... ih passou... vamos ao próximo segundo então!!! Como posso duvidar de um homem que no alto de seus noventa anos plantou uma “bananeira” e ficou brincando com as pernas para cima, deixando todos os residentes e convidados estupefados durante sua visita a Renascer!

2 comentários:

Unknown disse...

Marco,



O meu profundo respeito e admiração pelo texto abaixo. Reflete uma maturidade muito grande, uma pessoa que aprendeu uma série de lições importantes na vida! Quero te incentivar a seguir neste caminho, sabendo que a vida não é fácil. Um amigo meu, do Kasaquistão, usava um provérbio russo: “Viver uma vida não é passear sobre um campo”. Temos a ilusão congênita e acreditamos na mentira de que a vida deve ser boa e fácil. Na realidade estamos vivendo em uma escola, onde existem muitas lições para aprendermos e crescermos, evoluirmos. E quando nos negamos a aprender uma determinada lição ela voltará sempre, cada vez mais intensa e óbvia, até que tenhamos aprendido a lição. Desejo-te todo o sucesso nesta caminhada, meu amigo!

Rolf H.H.

Unknown disse...

Bom dia Marco.
Após este depoimento, só posso dizer que continuas sendo um vitorioso. E me sinto honrado por estar seguindo minha própria recuperação, dia após dia, próximo a tí e aprendendo contigo.
És um vencedor quando deixas momentâneamente de lado o relato das tuas vitórias (que são muitas), para dividir tuas dificuldades. Para sem máscara ou constrangimento mostrar que somos todos feito do mesmo "barro". Para evidenciar que crescemos tanto na poesia ou lirismo, quanto no fogo ou a beira de um penhasco. Onde, à beira do penhasco, dar uma passo pode significar despencar num abismo eterno ou então perceber e aprender os ensinamentos que nos são ofertados. Aprender a voar e seguir a jornada para muito alem dos abismos que são muitos em nossas vidas.
É um privilégio te conhecer Marco.
Um forte abraço.
Marcos Henkel.