quinta-feira, 9 de abril de 2009
Bilhete
Por Marco Leite
Neste depoimento breve e simples quero explicar um pouco de minha ausência nestes últimos dias. Ocorre que estive muito atarefado com um trabalho longo e estafante, mas de grande satisfação pessoal. O bilhete que escrevo para vocês é uma espécie de quinto e décimo passo, um inventário pessoal relâmpago e também um relato que faço para Deus e para todos os leitores do Gratidão, que neste momento estou elegendo como padrinhos para ouvirem o que tenho a dizer a Ele. Saí da Fazenda Renascer há quase dois anos, no dia 13 de maio de 2007.
É isso mesmo, era dia da libertação do escravos no Brasil. Foi o dia que realmente recebi minha ‘carta de alforria’ de adicto (escravo) e que dizia: “Nada e nem ninguém me fará usar drogas, se eu não quiser”! Fiz disto um lema em minha vida e planejei minha volta à sociedade com muita calma. Não me deixei engolir pela ansiedade e, principalmente, pela pressa em recuperar tudo que havia perdido rapidamente. Tenho andado com calma e aos poucos e minha vida tem se ajeitado.
Tenho a satisfação pessoal de saber que estou no caminho certo. Tenho minha família de volta, minha filha volta a acreditar que tem um pai e um amigo, ganhei novos e verdadeiros amigos, tenho pessoas e grupos a quem recorrer quando enfrento problemas, gente que entende minha cabeça ainda confusa pelo longo período de adicção ativa.
E tenho que confessar que o que mais me faz feliz é ter de volta minha vida profissional. Esse último trabalho que peguei me deu a certeza que estou de volta, não pelo dinheiro que vou receber, até porque nem preço acertei com meu contratante. Mas pela dificuldade do trabalho e de saber que em momento algum tive que recorrer a substâncias para continuar, mesmo quando o cansaço era completamente dominante. Muito pelo contrário ligava para o pessoal envolvido no projeto e avisava que precisava para algumas horas e eles entendiam.
É bom saber de tudo isso, mas é bom sempre estar refletindo e agradecendo. Sem isso posso cometer o mesmo erro de antes que é o de “viajar no sucesso”. Tenho que saber que uma vida em recuperação passa por algumas proibições, uma auto vigia constante, principalmente na euforia, que para mim é o maior dos perigos. Eu sou deslumbrado e, se não me cuidar, isso pode me derrubar. Por isso peço que me critiquem, me dêem retornos construtivos. Elogios, também gosto é claro, quem não gosta, mas eles são um perigo para um adicto e eu sei disso.
Estou de volta no jornal Gratidão e procurando e lendo textos que divido com todos é uma maneira de me manter em pé. Essa obrigação diária com quem lê ou recebe e não lê, me faz sentir na Fazenda Renascer, onde também haviam os interessados e os desinteressados na caminhada de recuperação. Aqui na rua é a mesma coisa, recuperação é simples, mas não é fácil. Como pode um adicto compreender que tem que controlar sua alegria? Mas é assim mesmo a felicidade não é momento, é continuidade e equilíbrio.
Eu procuro fazer isso e tem dado certo até hoje. O amanhã? Não sei. Estou vivendo só por esse instante como costuma dizer meu amigo Chemale. Vejam que não citei vontades e falta de drogas. É que realmente não penso mais nisso, escolhi no dia 13 de maio viver sem isso e é gratificante saber que a felicidade não está nas fugas, mas no enfrentamento dos problemas com serenidade e gratidão.
Tenho a certeza que quando Deus se aproximou de mim e me tocou, não me deu garantia que eu não teria problemas, mas certamente me deu armas ou ferramentas para enfrentar. E é assim que vivo fazendo o bem conforme os desígnios de Deus, feliz e grato por, Só Por Hoje, estar em plena felicidade por ter me libertado das correntes da adicção. Mas, preciso sempre lembrar que venço novamente só hoje, o amanhã não me pertence e o passado já passou. Por isso sou grato todos os amanheceres em que ganho um PRESENTE de Deus.
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