domingo, 26 de abril de 2009

Divulgando o Gratidão


Para o Aurélio Confiança é definido como:
1. Segurança íntima de procedimento.
2. Crédito, fé: O mensageiro não merecia a confiança nele depositada.
3. Segurança e bom conceito que inspiram as pessoas de probidade, talento, discrição,
4. Quem se pode contar em qualquer situação:

Dar confiança:
Tratar (alguém) com familiaridade e/ou consentir em ser assim tratado.
Depositar confiança:
Crer na honradez ou discrição de. Ter em bom conceito, em alta estima.


Confiança

Por Marco Leite

Para mim, um alcoólico em recuperação, a definição é muito mais forte, é vencer o preconceito, é ter que provar que estou forte, é vir a acreditar que Alguém muito maior que eu está me protegendo (Segundo e Terceiro Passos). É provar para mim que mereço novamente uma chance de recomeçar.

Eu quebrei todas as regras, traí, fui irresponsável, deixei de cumprir com os meus compromissos mais simples, tudo por um copo de vodka e por acreditar que assim era mais fácil fugir dos problemas e das responsabilidades.

Acredito que para o resto dos meus dias vou viver tendo que provar que sou confiável, principalmente para meus familiares. Deixei muitas marcas e muitas mágoas nas pessoas que me rodeiam e eles têm o direito de desconfiar.

Cabe a mim aceitar isso com serenidade, pois são coisas que eu mesmo plantei. Hoje, já não sofro mais com esse tipo de coisa, estou há três anos abstêmio e as pessoas já soltaram um pouco as rédeas e não me vigiam como antes.

Às vezes minha esposa e filha me ligam para saber onde ando e se já estou chegando, e fico feliz com isso, me mostram que sempre vai haver um pé atrás e um medo de uma recaída.

Quando assumi os 12 Passos de AA como espinha dorsal de minha recuperação fui chamado para uma responsabilidade que nunca havia tido em minha vida de alcoólico ativo. Agora, em abstinência e buscando a sobriedade, vivo de 24 em 24 horas.

E isso é muito mais fácil, pois assim não preciso me preocupar se vão confiar em mim amanhã, pois a minha responsabilidade é Só Por Hoje, o amanhã a Deus pertence e sei que esse confia em mim.

Acho sinceramente que os dependentes de álcool e outras drogas lutam muito com essa “confiança”, pois alguns chegaram a um ponto que nem eles mesmos acreditam em si.

Confiar é praticar o Terceiro Passo em sua plenitude. Quando se entrega a vida e as vontades ao cuidado de Deus é muito mais fácil.

Eu confio que Deus está comigo e prossigo, sempre fazendo minha parte que é praticar os Passos, principalmente o Décimo Passo, uma análise honesta e todos os dias é fundamental para se readquirir confiança, não dos outros, mas em mim próprio.

Vivo assim a minha vida hoje, se falhei ontem vou buscar acertar no hoje. O futuro não sei, pois ele não me pertence, mas preciso fazer o correto agora e sempre para ter a confiança no amanhã.
(Artigo publicado no
Site do Bairros Buritis - Minas Gerais)



A luta diária de
um “borracho”

Por Marco Leite

No último final de semana, estive em Cruz Alta. Fui a um encontro de graduados de Comunidades Terapêuticas, organizado pelo Núcleo de Apoio ao Dependente Químico, isso mesmo, eu sou um alcoólatra em recuperação e fui fazer a minha manutenção. Sem isso e também procurando viver um ‘Só Por Hoje’, não consigo me manter abstêmio e buscar a tão sonhada sobriedade que, para mim, é muito mais do que ser moderado no comer ou beber.

Não me tornei um “borracho” em Uruguaiana, tomei sim meu primeiro porre aí, mas até então nem sabia o que era bebida. Fui me tornando um alcoólatra aos poucos, dos meus 30 anos de consumo da “mardita da cachaça”. Para me dar conta que precisava de ajuda tive que perder tudo, só me restou mesmo a família, minha mãe, meu pai, meu irmão, minhas irmãs, e é claro minha esposa e filha. Fui parar em uma comunidade que trata de dependentes químicos de álcool e drogas, onde passei 10 meses, procurando o autoconhecimento e uma espiritualidade há muito perdida. Sou católico, herdei isso dos ensinamentos de minha mãe. Fiz a primeira comunhão na Igreja do Carmo, depois de muita luta de minha progenitora, já que passei três anos indo e não indo às aulas de catequese. Fui terrível nessa fase. O padre, do qual não lembro o nome, já tinha desistido de nos dar a comunhão, digo nos porque o meu irmão Bira estava junto nesse processo. Mas ir à igreja em minha infância pouco adiantou e o afastamento das coisas espirituais foi se dando com o tempo de alcoolismo e uma vida desregrada. O tempo na Comunidade Terapêutica me levou a uma aproximação com Deus novamente, isso claro que meio forçado no início, mas muito prazeroso nos dias de hoje.

Fiz esse pequeno relato para que os leitores me conheçam um pouco mais e porque encontrei, em Cruz Alta, companheiros de Uruguaiana e Paso de Los Libres. Gente que, como eu, foi lá para salvar a própria pele da dependência de substâncias psicoativas e que procuraram prazeres imediatos nas drogas.

Quando saí de Uruguaiana, em 1978, a droga já circulava por aí, o lança perfume e Perventim eram os mais falados. Eu é claro muito novo não me interessava por essas coisas. Mas conversando com os companheiros daí de nossa cidade e de Paso de Los Libres, descobri que o crack já chegou a nossa cidade. É triste saber disso, pois guardo Uruguaiana como uma cidade dos sonhos. Falo isso com o coração encharcado de lágrimas, por saber que virei um adulto e tenho que enfrentar a realidade - que é pandemia das drogas. Isso está fora de controle mesmo.

Eu dou graças ao bom Deus por estar em recuperação, sem isso não estaria aqui escrevendo esse artigo para vocês. E falo também com felicidade de ver que os jovens da fronteira estão buscando recursos e ajuda, e procurando sair desse labirinto sem fim que nós mesmos nos enfiamos.

Espero participar mais e ajudar a quem precisa. Esse é 12º Passo de AA, transmitir a mensagem e praticar os princípios espirituais em todas as minhas atividades.

Eu acredito que se eu que estava à beira da morte agora estou na luta, todos podem!!!

Tenho um e-mail e participo de um grupo, chamado Gratidão. Mandamos um jornal eletrônico todos os dias com informações sobre a doença e como buscar ajuda. O e-mail é: grupogratidao@gmail.com e está à disposição de quem quiser receber essas informações.

Parabéns a esses jovens da fronteira que tiveram a coragem de mudar. Eu que passei por esse processo sei que é simples a recuperação, porém não é fácil, a luta tem que ser diária e evitar o primeiro gole, a primeira fumada, a primeira cheirada. Fazendo isso, morremos de novo e aí o martírio recomeça.

Falo isso para alertar, porque nos últimos três anos de minha vida tenho me dedicado a ajudar a quem precisa, e faço isso para salvar a mim mesmo e por gratidão a quem um dia também me estendeu a mão.

Fica o alerta para as famílias, as autoridades e a população de Uruguaiana - a droga está instalada e é preciso reagir para continuar a ter a cidade mais bela, que é sentinela do nosso país.
(Artigo publicado no
Jornal Tribuna - Uruguaiana - RS)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bilhete


Por Marco Leite

Neste depoimento breve e simples quero explicar um pouco de minha ausência nestes últimos dias. Ocorre que estive muito atarefado com um trabalho longo e estafante, mas de grande satisfação pessoal.
O bilhete que escrevo para vocês é uma espécie de quinto e décimo passo, um inventário pessoal relâmpago e também um relato que faço para Deus e para todos os leitores do Gratidão, que neste momento estou elegendo como padrinhos para ouvirem o que tenho a dizer a Ele. Saí da Fazenda Renascer há quase dois anos, no dia 13 de maio de 2007.

É isso mesmo, era dia da libertação do escravos no Brasil. Foi o dia que realmente recebi minha ‘carta de alforria’ de adicto (escravo) e que dizia: “Nada e nem ninguém me fará usar drogas, se eu não quiser”!
Fiz disto um lema em minha vida e planejei minha volta à sociedade com muita calma. Não me deixei engolir pela ansiedade e, principalmente, pela pressa em recuperar tudo que havia perdido rapidamente. Tenho andado com calma e aos poucos e minha vida tem se ajeitado.

Tenho a satisfação pessoal de saber que estou no caminho certo. Tenho minha família de volta, minha filha volta a acreditar que tem um pai e um amigo, ganhei novos e verdadeiros amigos, tenho pessoas e grupos a quem recorrer quando enfrento problemas, gente que entende minha cabeça ainda confusa pelo longo período de adicção ativa.

E tenho que confessar que o que mais me faz feliz é ter de volta minha vida profissional. Esse último trabalho que peguei me deu a certeza que estou de volta, não pelo dinheiro que vou receber, até porque nem preço acertei com meu contratante. Mas pela dificuldade do trabalho e de saber que em momento algum tive que recorrer a substâncias para continuar, mesmo quando o cansaço era completamente dominante. Muito pelo contrário ligava para o pessoal envolvido no projeto e avisava que precisava para algumas horas e eles entendiam.


É bom saber de tudo isso, mas é bom sempre estar refletindo e agradecendo. Sem isso posso cometer o mesmo erro de antes que é o de “viajar no sucesso”. Tenho que saber que uma vida em recuperação passa por algumas proibições, uma auto vigia constante, principalmente na euforia, que para mim é o maior dos perigos. Eu sou deslumbrado e, se não me cuidar, isso pode me derrubar. Por isso peço que me critiquem, me dêem retornos construtivos. Elogios, também gosto é claro, quem não gosta, mas eles são um perigo para um adicto e eu sei disso.


Estou de volta no jornal Gratidão e procurando e lendo textos que divido com todos é uma maneira de me manter em pé. Essa obrigação diária com quem lê ou recebe e não lê, me faz sentir na Fazenda Renascer, onde também haviam os interessados e os desinteressados na caminhada de recuperação. Aqui na rua é a mesma coisa, recuperação é simples, mas não é fácil.
Como pode um adicto compreender que tem que controlar sua alegria? Mas é assim mesmo a felicidade não é momento, é continuidade e equilíbrio.

Eu procuro fazer isso e tem dado certo até hoje. O amanhã? Não sei. Estou vivendo só por esse instante como costuma dizer meu amigo Chemale.
Vejam que não citei vontades e falta de drogas. É que realmente não penso mais nisso, escolhi no dia 13 de maio viver sem isso e é gratificante saber que a felicidade não está nas fugas, mas no enfrentamento dos problemas com serenidade e gratidão.

Tenho a certeza que quando Deus se aproximou de mim e me tocou, não me deu garantia que eu não teria problemas, mas certamente me deu armas ou ferramentas para enfrentar.
E é assim que vivo fazendo o bem conforme os desígnios de Deus, feliz e grato por, Só Por Hoje, estar em plena felicidade por ter me libertado das correntes da adicção. Mas, preciso sempre lembrar que venço novamente só hoje, o amanhã não me pertence e o passado já passou. Por isso sou grato todos os amanheceres em que ganho um PRESENTE de Deus.

Ode a Uruguaiana


Por Marco Leite

Uruguaiana... Feliz tu nasceste...
À beira de um rio... Sorrindo ao luar

Nasci e me criei junto dos rios Quaraí e Uruguai. Feliz, nasci próximo à beira de dois rios, sorrindo ao nascer do sol e ao luar. Fico pensando que minha infância está infinitamente ligada aos rios que banham Uruguaiana.
Quase tudo em minha infância lembra o velho Uruguai, vejam só: aprendi a dar os primeiros passos à beira do Quaraí, logo depois me foi apresentado o rio de minha infância - o Uruguai. Foi na beira do rio que aprendi a ler, isso mesmo, levava os livros para poder ficar mais próximo das pescarias, das travessuras. Enfim, a costa do Uruguai é considerada por mim como um espaço de educação e também um divertimento de criança.

Uruguaiana... Cidade alegria...

Ouve a melodia... Deste meu cantar


Eu era feliz e não sabia. Uruguaiana é a bela lembrança dos tempos de um guri que estudou em diversas escolas e que tocava tarol na banda de todas elas. Felicidade também era poder cantar o hino na Semana da Pátria, durante os desfiles, era um divertimento e ensaiávamos o ano inteiro para esse momento.

É um canto modesto... Que é o manifesto...
Do meu coração... Ele quer adorar-te

Cantar fazia parte de minha infância. Isso era feito com alegria, sem vergonha de botar para fora o amor por uma cidade modesta, mas com orgulho por fazer parte dessa comunidade, de poder manifestar de coração o amor pelo seu município.


Pois tu fazes parte... Do nosso torrão....

No jardim de meu país... És também uma flor

Uruguaiana é uma cidade que, mesmo à distância, não deixou de fazer parte de minha vida. Tenho lembranças vivas dos jardins floridos, cultivados por nós mesmos, e hoje, se a gente quer uma flor, tem que comprar. Em Uruguaiana, nós colhíamos o que plantávamos.

O teu povo é feliz... Vivendo neste esplendor...Cidade Fronteira

Sou profundamente grato por ter vivido nesse esplendor, e que esplendor!!!
Só quem viveu aí pode lembrar do rio, do Carnaval, da Califórnia da Canção Nativa, dentre tantas coisas, como também as rixas com os correntinos sempre nos lembrando que éramos fronteira de um País e tinha orgulho disso.

És toda coberta... De um céu cor de anil..
Tens a
honra mais bela... De ser sentinela... Do nosso Brasil

É Uruguaiana do céu anil, quem tem a honra mais bela de fazer parte de tua comunidade sou eu!! Eu fui e sou parte dos sentinelas do nosso Brasil!!
Sou grato e estou sempre lembrando do meu passado esplendoroso nesta cidade maravilhosa, onde nasci, me criei e forjei meu caráter.

Muito obrigado, Uruguaiana, melhor cidade do mundo
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