O exôdo rural
por Marco Leite
Minha filha passou no Vestibular da Ulbra aqui em Canoas, escolheu três cursos: Artes Visuais, Produção Audiovisual e Física. Agora está em processo de escolha do curso e cheia de dúvidas. Não esquento muito a cabeça. A escolha deve ser dela, quero vê-la feliz e se não for nenhum desses cursos, a Maria Clara vai ter um leque de opções para escolher. O que não falta pela região é universidades.
Esse processo que minha filha está passando me fez lembrar de 1977, foi no final desse ano que minha família se mudou de Uruguaiana, viemos de mala, cuia, mobília e até um cachorro chamado Gueyle.
Mas por que saímos de Uruguaiana? Por duas razões. A primeira era que meu pai, Seu Vilmar, para poder se aposentar teria que ficar um tempo embarcado em navio, pois sendo marinheiro e cedido ao Corpo de Fuzileiros, precisava cumprir horas para poder ir para a reserva. Esse tipo de coisa só no Rio de Janeiro ou em outros centros é que tinha.
A outra e principal razão foi o acesso à universidade. Minha irmã mais velha, Marione Leite, uma das primeiras repórteres da TV Uruguaiana, veio para Canoas junto com minha comadre Eloá Lopes da Rosa para estudarem Jornalismo. Nossa família é uma escadinha, temos diferença de mais ou menos um ano de irmão para irmão, e só a última é que tem cinco anos de diferença. Pois esse processo de mudança se deu porque mesmo sendo uma cidade com grande qualidade de ensino, Uruguaiana, por estar em uma zona rural, só oferecia cursos que tivessem a ver com a cultura econômica da cidade, que era a agricultura e a criação de gado.
Todos os meus irmãos, sem exceção, chegaram em Canoas com um excelente preparo educacional. Não porque o ensino em Canoas fosse fraco, mas o que se sentiu na minha família é que o nível de Uruguaiana era superior. Passou muito tempo desde nosso êxodo para a região metropolitana e, durante esse período, encontrei vários amigos, colegas e conhecidos morando e estudando em Porto Alegre. Fico pensando como a falta de opção de ensino superior em nossa cidade fez com que as pessoas se afastassem e fossem conquistar a profissão de sua escolha longe da família e dos amigos. Creio que alguns até retornem para Uruguaiana, mas a grande maioria acaba ‘se achando’ e não volta, estabelecendo-se em grandes centros. Penso que, por tudo isto, a cidade é prejudicada, perde seus moradores, suas raízes, sua base cultural e a sua história.
Eu por exemplo tenho familiares por aí, mas há muito tempo não sei onde andam e se estão bem. Claro que o meu caso é meio especial, pois vim com pai, mãe e todos os irmãos para Canoas. Mas, há alguns meses estive aí no aniversário de minha comadre e não procurei ninguém de minha família. Uruguaiana cresceu muito e eu não saberia localizá-los nas poucas horas que permaneci na cidade. A única que realmente mantém contato com os parentes é minha mãe, que volta e meia ela fala sobre nossos tios e tias. Mas confesso que quando ela fala são nomes que não lembro e não me remetem aos meus tempos de guri de Uruguaiana.
Em tempo: Deu Ilha do Marduque no Carnaval de Uruguaiana!!!!!! Fiquei orgulhoso pelo bairro que meu pai ajudou a dar o nome de Ilha no Marduque, certamente teria saído na escola se estivesse por aí. Mas não pude deixar de me emocionar quando vi a velha Cova da Onça, que para mim foi a escola mais bonita de todas. Infelizmente, não basta ser a mais bonita, tem que ter um desfile tecnicamente perfeito e isso foi o que fez a Ilha do Marduque. Parabéns a todos de Uruguaiana pelo Melhor Carnaval do Rio Grande do Sul, quiçá do Brasil.
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